30.3.19

Presença de Homero


Deve  haver,  no mais  pequeno poema  de  um  poeta,  qualquer  coisa por onde  se  note  que  existiu  Homero.  A  novidade,  em  si  mesma, nada  significa,  se  não houver  nela  uma  relação com  o que  a precedeu.  Nem  própriamente,  há  novidade  sem  que  haja  essa relação.

[Pessoa]

A coisa  mais antiga de  que  me lembro é dum  quarto frente do  mar dentro do qual estava uma  maçã enorme e vermelha. Do brilho do mar  e  do vermelho da  maçã  erguia-se  uma  felicidade  irrecusável, nua e inteira. Não era nada fantástico, não era nada de imaginário: era a própria  presença  do real que eu  descobria. Mais tarde a obra de  outros  artistas  veio  confirmar  a  objectividade  do meu  próprio olhar.  Em  Homero reconheci  essa  felicidade  nua  e  inteira,  esse esplendor da presença das coisas.

[Sophia]