Nasces-me cedo nos dias por viver. Tão cedo nasces, tão cheia de alegrias escuras que eu não te conheço, nem nunca te vi. És mãe do que me falta e passeias no peito a minha esperança absurda de ser o que não sou. As ruas vagas que habitas estão desocupadas de mim, é meu tanto silêncio, são minhas as noites acordadas, os ponteiros parados e o frio de um corpo ausente.
Trago amor por baixo de tudo, onde não se possa estragar connosco. Tenho todas as felicidades escritas num diário de desejo, como dias atrás de dias.
Toma como minhas as frases bonitas que ouvires e meus também os carinhos arrependidos, são tudo coisas minhas, tudo coisas de mim.
[Nuno Camarneiro, «No meu peito não cabem pássaros»]